Depois de dois anos difíceis, a atriz e apresentadora recupera a forma, encara novos projetos profissionais e diz que quer trabalhar mais em ficção.
Regina Casé emagreceu à beça: calcula ter perdido dez quilos desde o início do ano. Assim, só de olhar, parece mais. Talvez pelo fato de ter trocado as roupas largas que desfilou nos últimos tempos por calças e blusas mais sequinhas, que deixam em evidência sua boa forma.
Emagrecer faz parte de uma nova etapa da vida de Regina, depois de um período que ela define como “punk”. Em julho de 2008, a apresentadora perdeu o pai, o diretor Geraldo Casé, responsável pela inesquecível adaptação do “Sítio do Picapau Amarelo” para a TV. Quatro meses depois, seu marido, Estevão Ciavatta, foi derrubado por um cavalo no sítio do casal, em Mangaratiba, e passou por uma delicada cirurgia para descomprimir a medula. Até hoje, ele enfrenta três horas diárias de fisioterapia.
— A vida exigiu muito de mim e não me cuidei nesses dois anos. Mas comecei a ficar assustada. Meu joelho doía, a coluna também. Quando fui ao dentista, estava cheia de cáries, coisa que não tinha desde criança. Botei a vida no armário e decidi tirá-la na virada do ano. Comecei a me consertar e a emagrecer — diz.
De início, Regina convocou a nutricionista Andrea Henrique (que atende jet-setters como a socialite Andrea Dellal e o fotógrafo Mario Testino) para uma detox. Perdeu três quilos em uma semana à base de chás, massagens, exercícios e dieta vegetariana. Também começou a caminhar diariamente.
Vai do Leblon, onde mora, ao Leme a pé. Já a nutricionista Christiane Rodrigues cuida hoje de seu cardápio — do supermercado aos lanchinhos.
Durante a entrevista, no Bar MAM, Regina resistiu aos pães de queijo e sacou da bolsa um kit com barrinha de quinua, umas dez amêndoas e Polenguinho light. Ao contrário de atrizes que atribuem a perda de peso a fórmulas inacreditáveis, à base de chás e exercícios milagrosos, Regina reconhece a fome que passa: — Todo mês faço uma semana de dieta muito pauleira. Mas chega desse assunto, que isso já está quase virando um “Globo Repórter recuperação de Estevão ainda faz parte da vida do casal. Depois do acidente, ele passou 20 dias no hospital, sem conseguir se mexer. Um mês depois, ficou de pé. Em três, deu os primeiros passos. No primeiro ano, quatro enfermeiros o auxiliaram em tempo integral.
— Hoje, ainda não estou 100%, mas vivo 100%.
O que passamos juntos foi uma prova de amor — diz Estevão.
Depois da experiência, Regina reconhece que não dá para sair de um sofrimento pela tangente: — Desde que encontrei o Estevão paralisado, com a cara na terra e uma poça de sangue, sem saber no que daria aquilo, falei: “A gente vai viver isso.” Não adianta achar que está tudo bem. O único jeito de se sair de uma situação braba é através dela, não pela direita, esquerda ou por cima.
O casal já voltou com tudo ao trabalho. A apresentadora fala cheia de empolgação da nova temporada de “Um pé de quê?”, atração que criou ao lado de Estevão e comemora uma década no ar, no Canal Futura. Para quem não conhece, o programa é uma graça: a apresentação de uma árvore serve de gancho para abordar também história, cultura e outras áreas de conhecimento.
Deu tão certo, que, agora, a série vai dar origem a uma coleção de livros e a uma enciclopédia online, com informações sobre as espécies retratadas.
Para gravar a atual temporada, que já está sendo exibida, eles estiveram pela primeira vez no Japão. Acompanharam por lá as comemorações da floração da cerejeira, uma forte tradição do país. Dividir o set com o marido não é problema para Regina — aliás, muito pelo contrário.
Se não tivesse conhecido Estevão (assim como ela, um cara com interesses variados, de botânica ao tecnobrega da periferia de Belém), a apresentadora acredita que estaria sozinha. No ano passado, o casal celebrou uma década de união com um “recasamento” no Outeiro da Glória.
— Tínhamos a intenção de fazer isso depois de dez anos juntos porque, no início, ninguém levava fé na nossa relação. Achavam que eu estava pegando um garoto — lembra. — E completamos dez anos justamente depois daquela tragédia. Hoje, todo mundo se separa quando surge um problema. Mas casar também é ter dificuldades.
A gente fez o “recasamento” exatamente porque estava difícil. A próxima empreitada profissional do casal gira em torno da Saara. Inicialmente, o centro comercial será tema de um especial de fim de ano da TV Globo, escrito por Guel Arraes.
Regina viverá uma vendedora, numa ficção que promete arrancar riso e lá grimas do público, no estilo dos filmes americanos sobre o Natal. Depois, as histórias da Saara ganharão um longa-metragem, em fase de captação de recursos. O ponto principal é o convívio de comerciantes libaneses, judeus, gregos e chineses nessa região, que Regina afirma frequentar assiduamente. Os lojistas garantem que não é conversa.
— Muitos apresentadores, como o Luciano Huck, já vieram fazer gravações por aqui. Mas a Regina Casé é consumidora mesmo. Há anos circula pela Saara, sempre cheia de sacolas — atesta a lojista Ana Paula Cuba Bittencourt.
O elenco do especial de TV ainda não está fechado, mas Regina convidou para acompanhá-la em cena a humorista Katiuscia Canoro (a Lady Kate de “Zorra Total”), de quem é fã. Regina é do tipo que gosta de misturar tudo: amigos, família, trabalho.
— Se estou querendo ficar amiga de alguém, chamo para trabalhar comigo.
O que interessa é ter pessoas legais por perto. Você vê o milagre que eu fiz hoje: dez minutos antes de vir para cá, consegui um figurinista (Léo Neves), que ia viajar para Nova York à noite, e um maquiador (Ricardo Tavares). São amigos, pau para toda obra, que sabem que podem contar comigo também — diz a apresentadora.
Sua trupe, porém, é das mais ecléticas. Regina fez amizade com o povo da moda (entre os mais próximos estão a estilista Isabela Capeto e o stylist Felipe Veloso); está sempre com a turma do samba (Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz); conhece religiosos de várias paróquias (Santa Clara, Outeiro, São Roque).
E tem muitos amigos anônimos, de classes sociais e idades variadas. Como Rita, de 4 anos, irmã por parte de pai de Benedita — filha (única) de Regina com o artista plástico Luiz Zerbini.
— Não aguento essa moda de tudo separadinho: gay com gay, terceira idade com terceira idade. Imagina se velho quer andar de van só com velho?! Velho quer ir numa festa com uma bicha, uma gostosa pra dançar, umas crianças agarrando na perna. É essa a festa que eu quero. Senão, você olha em volta e só tem gente com cabelo cortado pelo Neandro! — ela ressalta, citando o cabeleireiro do momento.
Sua aproximação dos anônimos costuma render bons frutos. Como a descoberta, em Juazeiro, do hit “Esperando na janela”, de Targino Gondim, durante as filmagens de “Eu, tu, eles” (2000).
— Quando me ouviu num forró, a Regina falou: “Essa é a música do filme.” De lá, ligou para o Gilberto Gil , que já estava terminando a trilha sonora.
A música impulsionou o filme e vice-versa — lembra Targino
Mais velha entre três meninas (as irmãs são a assessora de imprensa Patricia e a chef Virgínia), ela é vista pela família como herdeira das habilidades do avô, Ademar Casé. Pernambucano simples, ele sabia se comunicar como poucos e trouxe diversas inovações para o rádio e a TV brasileiros, como o jingle e a novela.
— Foi ela quem recebeu maior dose de DNA do nosso avô. Tem uma capacidade de persuasão impressionante: consegue convencer você de que o verde é amarelo — garante Virgínia, a caçula do trio.
Criada em Copacabana, aluna do colégio de freiras Sacré-Coeur de Marie, Regina gostava de explorar novos ambientes desde cedo.
Na infância, já circulava pela Saara com uma tia e adorava visitar a casa da empregada, na extinta Favela da Catacumba.
— Ela levou tudo isso para o trabalho. E é das clientes mais exigentes que já tive. Tem uma memória absurda e faz listinhas para tudo — afirma a irmã Patrícia.
O teatro entrou na vida dela no início dos anos 70, tempo em que era frequentadora assídua do Píer de Ipanema. Aos 16 anos, começou a ter aulas com o ator e diretor Sérgio Britto. Ficou amiga de Hamilton Vaz Pereira e, juntos, formaram o Asdrúbal Trouxe o Trombone, grupo que fez história nas décadas de 70 e 80, graças a um tipo de interpretação mais despojado. A trupe revelou gente como Evandro Mesquita e Patricya Travassos.
— A Regina é como um pescador. Conta histórias de uma maneira tão floreada e divertida que sua versão vira a oficial. Isso acontece até quando você sabe que os fatos não aconteceram bem daquele jeito. Essa crônica do cotidiano tem tudo a ver com o Asdrúbal — diz Patricya.
Atualmente, Regina faz planos de atuar mais. Diz que queria ter feito ficção com mais frequência entre os programas jornalísticos (“nisso aí eu vacilei”). Suas personagens, porém, são inesquecíveis. Até hoje, ela é chamada de Tina Pepper, aspirante à cantora e fã de Tina Turner, que interpretou na novela “Cambalacho” (1986). Outro sucesso foi a bem-humorada peça “Nardja Zulpério”, que ficou cinco anos em cartaz, na década de 90. Em 2009, ela voltou à TV na elogiada minissérie “Som e fúria”.
— Fico chata quando não atuo. Gasto uma hora e meia de uma reunião falando, faço uma peça. Mas a vida real sempre me chamou. Tem milhões de atrizes ótimas e ninguém quer ir no cafundó como eu. Mas vou continuar tentando equilibrar isso — diz.