Nardja ZuIpério no teatro Casa Grande, domingo, às 21h30 (no sábado no mesmo horário, há ensaio aberto), e já tem um grande feito na bagagem: inaugurou e lotou durante quatro meses o espaço teatral do Aeroanta, em São Paulo, há 2 anos, no horário pouco atraente das oito da noite. A peça, escrita, dirigida e musicada por Hamilton Vaz Pereira, traz de volta aos palcos cariocas Regina Casé, após seis anos de ausência, desde “A farra da Terra”, de Hamilton e Fausto Fawcett. A atriz vem com tudo num solo onde atua com vídeo, telões, secretária eletrônica, toca-discos e gravador. “É a primeira vez que contraceno todo o tempo apenas com o operador de som, luz e vídeo”, diz. Regina chega a fritar um ovo em cena. “O fogão funciona de verdade. Como se fosse da Globo”, garante rindo, com fôlego de sobra para interpretar a personagem-título.
“Nardja chega em casa depois de um dia estafante, em que fez coisas demais pra uma pessoa só. Quando vai descansar, atende o telefone e o dia seguinte, atribuladíssimo, começa à noite mesmo”, resume. Não é á loa que Regina Casé entra em cena carregando as próprias cinzas. “Nardja tá muito caída e percebe que o trabalho é sua chance de revitalizar as energias”, afirma Hamilton Vaz Pereira, que, no final dos anos 70, revitalizou o teatro nacional, então engajè, com injeções de bom humor.
Nardja ZuIpério não pára. Nem pode parar. Afinal de contas, tem quatro pendências para resolver o mais rápido possível: adaptar para o teatro “Assim falou Zaratustra”, de Nietzsche; escrever o roteiro de um show para a boate Paquiderme Voador, em Belo Horizonte; criar a letra para urn projeto de música brasileira do “Talking Head” David Byrne em Nova lorque; concorrer ao papel de Garota Psiquê num víideo publicitário sobre peças íntimas da marca Eros e Psiquê.
Haja versatilidade. Nardja até parece a Regina Casé, musa de Caetano Veloso na música Rapte-me Camaleoa, atriz-besteirol no extinto TV Pirata, “repórter” ao lado de Luís Fernando Guimarães no Programa Legal (estréia na Globo em março) e autora da Melô do Terror cantada por ela mesma há poucas semanas no Funk Brasil, em plena Praça da Apoteose. Nardja Zulpério também canta, mas para responder a uma jornalista sobre seus hábitos enquanto está sozinha: “Dou banho ni mim / Me visto bem bacana / penteio meu cabelo / me chamo de lindona / lindona, lindona / me pego bem vistosa / me chamo de cremosa / cremosa / cremosa”
Enquanto conta sua história, Nardja escuta desaforos, via vídeo, de Fernanda Montenegro (Afrodite), Luiz Fernando Guimarães e Theo Werneck (do grupo musical paulista Luni) também aparecem no vídeo. Nardja Zulpério – com iluminação de Maneco Quinderé, programação visual e cenários de Luiz Zerbini (marido de Regina) e figurinos de Cao (figurinista de Gal e Caetano) e Yamê – foi considerada pela crítica paulista um dos textos mais maduros de Hamilton Vaz Pereira. “É um elogio à solidão, á valorização da própria existência através do trabalho”, ele diz. Chegou a vez dos cariocas conferirem.