Atriz estuda convite para participar de minissérie sobre o Estado do Acre e diz sentir saudades dos tempos de humor
Como apresentadora, ela se divide entre o “Um Pé de Quê?”, os talentos musicais do “Central da Periferia” e um quadro no “Fantástico”
Há seis anos à frente do “Um Pé de Quê?”, programa em que busca origens e curiosidades de todo tipo de árvore, Regina Casé, 52, anda saudosa da lavoura da dramaturgia. O último trabalho dela no terreno é da safra de 2001: “As Filhas da Mãe”, de Silvio de Abreu. Recentemente, vieram propostas de papéis cômicos em “A Lua me Disse” e “Cobras e Lagartos”. Os compromissos com “Pé”, “Minha Periferia” (quadro do “Fantástico”) e “Central da Periferia” a levaram a recusá-las.
Agora, pelas mãos de Glória Perez, ela ensaia um retorno à ficção. “Fui convidada para fazer a minissérie sobre o Acre [cujo título provisório é “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes”]. A personagem é uma parteira que vive na floresta e já fez mais de 400 partos. Se conseguir encaixar na agenda, vou fazer, porque morro de saudades e sou cobrada de voltar”, diz.
Antes de reengatar o flerte com sua porção atriz, ela foi à África fazer o raio-x de três espécies da flora moçambicana -baobá, pau preto e canho. O registro está na nova temporada do “Um Pé de Quê?”, que estréia nesta semana, no Futura. “Fiquei apaixonada pelas pessoas. Há uma empatia que está muito antes e muito depois da língua. O país tem 31 anos. É como um europeu se sente em relação ao Brasil; está tudo por fazer, e isso dá um gás”, observa.
Gás suficiente para fazê-la coletar material não só para o “Pé”. “Não almoçava porque queria gravar uma matéria para o “Minha Periferia” e não jantava porque queria gravar outra para o “Central'”, brinca. O desejo de estabelecer paralelos entre os cotidianos moçambicano e brasileiro a levou, por exemplo, a um bairro do subúrbio de Maputo onde as vans são o transporte preferencial e ecoa alto o coro de vozes anunciando o itinerário dos veículos. O cenário, segundo a apresentadora, é idêntico ao de Santa Cruz, na zona oeste carioca.
Casé terá várias oportunidades de comparar o que viu na África à realidade brasileira. Depois dos quatro programas iniciais, a Globo deu sinal verde para mais seis edições de “Central”. Brasília e Fortaleza estão na rota da caravana musical.
Às críticas de que a atração perde o espírito crítico e induz à adesão do espectador, Casé reage: “Não há pedagogia no sentido de fazer gostar de certa música ou projeto, mas não se pode ignorar que aquilo existe e o tamanho daquele fenômeno. É uma patologia social viver em cidades em que o que acontece em alguns bairros -que, muitas vezes, ocupam a maior parte da área- é obscurecido”.
O que ninguém ignora é a verve humorística da atriz. Será que ela voltará à carga? “Quando encontro com o Luiz Fernando Guimarães [parceiro no Asdrúbal Trouxe o Trombone], penso em voltar. O Alexandre Machado [criador de “Os Normais”] também já me mandou idéias. Ninguém sabe o que pode acontecer nos próximos cinco minutos”, despista.
Enquanto não reata com o humor, ela desenvolve com o documentarista e marido, Estevão Ciavatta, o roteiro de um filme ambientado na Saara, tradicional reduto comercial do Rio. Não há previsão para o início das filmagens.